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Com Senise e Peranzzetta, Wanda Sá canta Tom & Vinicius entre o drama e a leveza

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Justiça seja feita: Wanda Sá bem que tentou renovar o próprio repertório com o álbum Cá entre nós (2016), lançado há dois anos com músicas menos ouvidas de compositores associados à mesma Bossa Nova à qual a voz da cantora está ligada desde 1964. Contudo, a indústria fonográfica e o mercado de shows são mais receptivos a projetos calcados em sucessos, a tributos como o recém-lançado álbum A música de Tom e Vinicius (Biscoito Fino).
Como o título já explicita, trata-se de disco de repertório dedicado à fundamental parceria de Antonio Carlos Jobim (1927 – 1994) com Vinicius de Moraes (1913 – 1980), compositores que criaram obra que nortearam a bossa já sexagenária, mas sempre nova. Não se trata de álbum solo de uma cantora, mas de um disco de trio que junta uma intérprete solista – Wanda, claro – a dois extraordinários músicos, Gilson Peranzzetta e Mauro Senise. Pianista, Peranzzetta é o autor dos arranjos que trazem a maioria das 11 músicas do álbum para atmosfera mais íntima, noturna, às vezes jazzy.
Basta ouvir a gravação de Janelas abertas (1958) para perceber o clima de boa parte do disco produzido por Regina Oreiro. É nesse ambiente metaforicamente esfumaçado que o trio traz o samba O grande amor (1960) para o escurinho de uma boate e que Wanda dá voz a canções clássicas como Eu não existo sem você (1958), música lançada de forma magistral há 60 anos na voz precisa de Elizeth Cardoso (1920 – 1990), divina cantora de mais técnica do que bossa.
A questão é, por vezes, é que falta densidade à intérprete para encarar todo o drama de letras como a da fatalista O que tinha de ser (1959), música mais talhada para cantoras teatrais como Maria Bethânia. Porque Vinicius era poeta que versava magistralmente sobre a arte do desencontro.
Capa do álbum ‘A música de Tom e Vinicius’, de Wanda Sá, Gilson Peranzzetta e Mauro Senise
René Machado
A bossa é música de natureza essencialmente ensolarada. Só que, por vezes, os versos do poeta eram nublados. Tanto que o momento mais ousado do álbum A música de Tom e Vinicius é o registro de Garota de Ipanema (1962). Na contramão da ginga que normalmente norteia o samba cheio de graça, o arranjo de Peranzzetta evidencia melancolia que, sim, está na letra, por mais que quase ninguém perceba por conta da bossa da melodia e do ritmo aliciante.
Quando a voz de Wanda Sá entra a partir dos versos “Ah, por que estou tão sozinho? / Ah, por que tudo é tão triste?”, tudo faz um sentido inusual em Garota de Ipanema em gravação na qual a cantora experimenta até novas divisões. E, verdade seja dita, o registro acariciante da voz de Wanda valoriza o disco, alcançando momentos sedutores nas interpretações das canções Amor em paz (1960) – destaque do álbum ao lado de Garota de Ipanema – e É preciso dizer adeus (1958), título menos ouvido e abordado da parceria de Tom & Vinicius.
De todo modo, é fato que Wanda traduz mais a essência da bossa nova quando canta com leveza. Veículo para a exposição do sopro arejado do sax soprano de Senise, Brigas nuncas mais (1959) sobressai no disco por conta dessa leveza tão carioca e, ao mesmo tempo, tão universal. Senise, aliás, faz a festa no toque serelepe do piccolo (instrumento da dinastia da flauta) que dá o tom alegre de Frevo (1959).
Além de conduzir com maestria o toque do piano nas composições mais densas, Peranzzetta consegue a proeza de criar arranjos que, por vezes, parecem renovar as músicas, caso do arranjo de Canta, canta mais (1959), faixa que fecha disco enobrecido pela fina sintonia entre os músicos de banda que, além dos coprotagonistas Senise e Peranzzetta, inclui o baterista João Cortez (bateria), Nelson Faria (guitarra) e Zeca Assumpção (baixo). Tal entrosamento é perceptível no registro instrumental de Por toda minha vida (1959).
Enfim, há quem questione – com certa razão – a necessidade se fazer mais um disco com músicas já tão gravadas como Se todos fossem iguais a você (1956). Por outro lado, há também quem argumente – com a mesma dose de razão – que sempre haverá a necessidade de se cantar mais e mais uma obra eterna como a construída por Antonio Carlos Jobim em parceria com Vinicius de Moraes. Entre o drama e a leveza, o álbum A música de Tom e Vinicius dá razão aos dois lados. (Cotação: * * * 1/2)

Fonte: G1 Música – Leia a matéria completa.

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