Search
Close this search box.
Home » Fique Ligado » Show de Simone e Ivan é festa que celebra gozos e afetos da cantora e do compositor

Show de Simone e Ivan é festa que celebra gozos e afetos da cantora e do compositor

simoneivan2

O show de Simone com Ivan Lins justifica e supera as altas expectativas geradas pela volta da cantora à cena. Trata-se de show fluente que está à altura do talento de Simone e que promove (de fato) o inédito encontro em palcos dessa baiana da gema que grava músicas do compositor carioca desde o primeiro álbum, lançado há 45 anos com o antenado samba Chegou a hora (Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza, 1973) no repertório.
Esse show bem poderia ter acontecido em 2004, ano em que Simone lançou álbum, Baiana da gema, com músicas inéditas de Ivan, gravadas com (alguns) arranjos e com o toque do piano desse compositor de exuberante musicalidade. Mas não aconteceu. Chegou a hora, enfim. Antes que seja tarde, Simone e Ivan amalgamam vozes, mãos – como visto na foto de Denis Ono – e afetos em show que veio ao mundo na cidade de São Paulo (SP) na noite de ontem, 17 de março de 2018, na casa Citibank Ball, dando a partida em miniturnê que seguirá para Belo Horizonte (MG) em 24 de março e para o Rio de Janeiro (RJ) em 7 de abril (há planos de retomar o show em meados do ano).
Sob a (sensível) direção de Zélia Duncan e sob a direção musical da pianista Delia Fischer, o show Simone encontra Ivan Lins é festa que celebra os gozos e afetos dessa união musical alavancada em 1979 pelo estouro nacional da gravação da feminista canção Começar de novo (Ivan Lins e Vitor Martins, 1979) na voz de Simone. “Foi aí que nossa parceria disparou”, avaliou Ivan no palco do Citibank Hall paulistano após apresentar Começar de novo com Simone, em dueto que harmonizou cantos e contracantos antes de ganhar crescente intensidade quando a cantora passou a comandar a interpretação da música.
Ivan Lins e Simone no show ‘Simone encontra Ivan Lins’
Divulgação / Denis Ono – MRossi
Em tons mais brandos, condizentes com os 68 anos de vida, Simone está cantando muito bem. É desse de jeito sincero, elegante e destemido que a cantora encarou músicas como Aos nossos filhos (Ivan Lins e Vitor Martins, 1978), Bilhete (Ivan Lins e Vitor Martins, 1980) e Mudança dos ventos (Ivan Lins e Vitor Martins, 1980), marcadas nas vozes de intérpretes como Elis Regina (1945 – 1982) – primeira cantora a dar voz ao então iniciante Ivan, em 1970 – Fafá de Belém e Nana Caymmi.
Por conta do canto de Simone e da força da letra, Aos nossos filhos foi um dos números mais belos e densos de roteiro musical que minimiza o repertório pouco conhecido do álbum Baiana da gema em favor do famoso cancioneiro lançado por Ivan entre 1974 e 1980 (treze das 19 músicas do roteiro são desse período áureo). Aos nossos filhos emociona inclusive pelo momento atual do Brasil estar tristemente conectado aos sombrios tempos de outrora que inspiraram os versos da canção.
Já Bilhete é mandado por Simone sem a alta carga dramática da gravação emblemática feita por Fafá em 1982, mas com recado sutil da intérprete ao revelar em cena que recebeu Bilhete de Ivan em 1980 juntamente com Atrevida (Ivan Lins e Vitor Martins, 1980), optando por gravar somente Atrevida, canção lançada em contexto social em que a mulher já começava a expressar em letras de músicas o gosto e o direito de ter prazer sexual com o homem. “Dancei, mas agora estou redimida”, gracejou Simone, após cantar Bilhete e Atrevida.
Assim como Vitoriosa (Ivan Lins e Vitor Martins, 1985) e como Mudança dos ventos (Ivan Lins e Vitor Martins, 1980), outro destaque de roteiro inebriante que jamais saiu do tom, Atrevida está no repertório de Simone encontra Ivan Lins porque o show versa muito sobre o gozo da cantora e do compositor estarem dividindo o palco como se esse palco fosse uma cama. Tanto que eles se tocam afetuosamente ao longo do show. O samba É festa (Ivan Lins e Paulo César Pinheiro, 2004) explicita o sexo prazeroso, feliz, nesse roteiro cantado também com o corpo.
Simone e Ivan Lins no show ‘Simone encontra Ivan Lins’
Divulgação / Denis Ono – MRossi
Muito do êxito da estreia nacional do show Simone encontra Ivan Lins se deveu ao fato de a cantora ter (rea)parecido em cena radiante, com luminosidade disseminada tanto pela voz grave e afinada como pelos risos e pelo gestual que exprimia satisfação por estar ali. O que ficou particularmente evidente quando Simone, cheia de si e de ginga, caiu no samba Baiana da gema (Ivan Lins e Paulo César Pinheiro, 2004), feito para ela pelo compositor que batucou no ritmo da cantora.
A caminho dos 73 anos de vida, a serem completados em junho deste ano de 2018, Ivan se garantiu em cena pela musicalidade excepcional (refletida no toque do piano) e pela intimidade com esse cancioneiro de refinada assinatura pessoal e intransferível, em boa parte escrito com versos do letrista paulista Vitor Martins.
O show é realmente dos dois. Simone e Ivan Lins ficam o tempo todo em cena na companhia da banda que inclui músicos como o violoncelista Lui Coimbra, o pianista Marco Brito – que emula o toque percussivo do piano de Ivan em A noite (Ivan Lins e Vitor Martins, 1979), uma das muitas músicas inéditas na voz de Simone – e o percussionista Thiago da Serrinha. Não há aquele truque de apresentar uma parte solo de Simone e outra de Ivan com alguns duetos no início, no fim e/ou no meio do show.
Na estreia nacional, a simbiose de Ivan e Simone em cena foi total, evidente já no canto de Abre alas (Ivan Lins e Vitor Martins, 1974) que, no início do show, pediu passagem para o encontro da dupla. Na sequência, Cantoria (Ivan Lins e Vitor Martins, 1978) corroborou tal intenção, soando como carta de princípios de dois artistas que se permitiram louvar a si mesmos pela felicidade do encontro, tardio, mas ainda em tempo de expor tanta afinidade musical. Somos todos iguais nesta noite (Ivan Lins e Vitor Martins, 1977) reiterou o tom celebrativo desse bloco de boas-vindas encerrado com o toque político da já mencionada composição A noite.
Música que abriu alas para Ivan Lins como compositor no alvorecer da década de 1970, no rastro da explosão do samba-soul Madalena (Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza, 1970) com Elis, O amor é o meu país (Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza, 1970) foi uma das boas surpresas do roteiro, reavivando composição mal-compreendida na época em que o Brasil vivia tempos de radicais polaridades políticas. Exatamente como nos conturbados tempos presentes. O que torna o cancioneiro político de Ivan tristemente atual.
Simone e Ivan Lins no show ‘Simone encontra Ivan Lins’
Divulgação / Denis Ono – MRossi
O show Simone encontra Ivan Lins transitou nestes dois polos, dando o recado político nos versos dos sambas Antes que seja tarde (Ivan Lins e Vitor Martins, 1979) e Desesperar jamais (Ivan Lins e Vitor Martins, 1980) – apresentado no bis que arrematou show curto que, na estreia, durou somente uma hora, deixando gosto de quero mais – ao mesmo tempo em que expôs toda a ternura romântica de outra face desse repertório, exemplificada por canções apaixonadas como Vieste (Ivan Lins e Vitor Martins, 1987). Cantar versos como “A felicidade há de espalhar / Com toda intensidade / Há de fazer a alarde / E libertar os sonhos / Da nossa mocidade / Antes que seja tarde / Há de mudar os homens / Antes que a chama pague” nos tristes dias de hoje é fazer política e tomar partido contra a barbárie nossa de cada dia.
Entre o amor e a política, Simone e Ivan fizeram a festa do público de meia-idade ao celebrar o encontro nos palcos com tanta alegria. Nessa festa, foi um prazer ver e ouvir Simone e Ivan cantarem a folia de reis Bandeira do divino (Ivan Lins e Vitor Martins, 1978) – reeditando o dueto que fizeram no álbum Juntos (1984), título gregário da discografia do cantor – e saboreando lado a lado a salsa à brasileira Ai, ai, ai, ai, ai (Ivan Lins e Vitor Martins, 1991), lançada por Simone há 27 anos em um dos álbuns mais melancólicos da cantora, Raio de luz (1991).
Enfim, é festa o encontro de Simone com Ivan Lins no palco. Entre nessa festa! (Cotação: * * * * *)
Eis o roteiro seguido em 17 de março de 2018 pelos artistas na estreia nacional do show Simone encontra Ivan Lins na casa Citibank Hall, na cidade de São Paulo (SP):
1. Abre alas (Ivan Lins e Vitor Martins, 1974)
2. Cantoria (Ivan Lins e Vitor Martins, 1978)
3. Somos todos iguais nesta noite (Ivan Lins e Vitor Martins, 1977)
4. A noite (Ivan Lins e Vitor Martins, 1979)
5. Aos nossos filhos (Ivan Lins e Vitor Martins, 1978)
6. O amor é o meu país (Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza, 1970)
7.
8. Começar de novo (Ivan Lins e Vitor Martins, 1979)
9. Baiana da gema (Ivan Lins e Paulo César Pinheiro, 2004)
10. Vieste (Ivan Lins e Vitor Martins, 1987)
11. Mudança dos ventos (Ivan Lins e Vitor Martins, 1980)
12. Vitoriosa (Ivan Lins e Vitor Martins, 1985)
13. É festa (Ivan Lins e Paulo César Pinheiro, 2004)
14. Ai, ai, ai, ai, ai (Ivan Lins e Vitor Martins, 1991)
15. Bilhete (Ivan Lins e Vitor Martins, 1980)
16. Atrevida (Ivan Lins e Vitor Martins, 1980)
17. Bandeira do divino (Ivan Lins e Vitor Martins, 1978)
18. Antes que seja tarde (Ivan Lins e Vitor Martins, 1978)
Bis:
19. Desesperar jamais (Ivan Lins e Vitor Martins, 1980)

Fonte: G1 Música – Leia a matéria completa.

Leia também

Newsletter

LEIA TAMBÉM