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Anemia melódica esvazia o recheio de ‘Taurina’, apesar da farta poesia de Anelis

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Anelis Assumpção é filha de Itamar Assumpção (1949 – 2003) e sempre honrou o sobrenome do pai sem se escorar na nobre dinastia, trilhando caminho próprio. Disponível em edição digital e nos formatos de CD e LP, o álbum Taurina (Scubibu Music) é o passo mais recente e mais titubeante de trajetória individual pavimentada pela cantora e compositora paulistana desde 2011, ano em que apresentou o primeiro álbum solo, Sou suspeita Estou sujeita Não sou santa.
Produzido por Beto Villares e coproduzido por Zé Nigro, sob direção artística da própria Anelis Assumpção, Taurina chega ao mercado fonográfico quatro anos após Anelis Assumpção & Os Amigos Imaginários (2014), versando sobre a gula e a comida como fonte de arte, prazer e (dis)sabores. Contudo, o título também alude ao sentido metafórico da palavra taurina, no caso com o significado de vaca, nome tão sagrado quanto profano, dependendo do sentido a ele atribuído. A associação da vaca de divinas tetas com a mulher é traduzida pela imagem que salta aos olhos na capa do álbum, com exposição de pintura de Camile Sproesser.
Capa do álbum ‘Taurina’, de Anelis Assumpção
Pintura de Camile Sproesser
Em que pese a fartura poética das letras de Anelis, dona de versos que jorram livres, ora cantados ora recitados como corpos estranhos inseridos no início ou no fim das faixas, como no reggae Paint it my dreams (Anelis Assumpção), a anemia melódica da inédita safra autoral esvazia o recheio de Taurina. Essa equação mal-resolvida entre letras e melodias é recorrente no disco em músicas como Mortal à toa, parceria de Anelis com a (superestimada) compositora Ava Rocha.
Com toque de dub e dos agudos sobressalentes de Tulipa Ruiz, convidada da faixa ao lado da própria Ava e de Liniker Barros, Mortal à toa é música insossa que jamais realça o sabor da poesia que escorre urgente, incontida, vertiginosa, como o sangue que condimenta os versos de Mergulho interior (Anelis Assumpção), faixa de síncopes súbitas. O próprio João Donato – parceiro de Anelis em Escalafobética, música de rimas próprias gravadas com a adição da voz de Thalma de Freitas – se mostra sem fôlego melódico e rítmico para acompanhar a cadência dos versos.
Anelis Assumpção
Divulgação / Caroline Bittencourt
Repleto de vozes e ruídos cotidianos, como já sinalizara o single Segunda à sexta (Anelis Assumpção), Taurina é álbum de poesia ágil como o ritmo de Chá de jasmim (Anelis Assumpção e Serena Assumpção) que evoca a receita de um choro, evidenciando a pulsação forte do baixo tocado por MAU. Música gravada com o registro da voz do filho da artista (Benedito) ao fim da faixa, Pastel de vento (Anelis Assumpção) se ressente da falta de recheio que enfraquece álbum em que a cantora-poeta se permite questionamentos em Gosto Serena (Anelis Assumpção) sempre com os versos no ponto.
No samba Caroço, composto por Anelis em parceria com o baiano Russo Passapusso, falta tempero e pimenta à gravação cool. O samba pode crescer quando ganhar calor e chegar ao ponto ideal de fervura em prováveis registros futuros. Dentro do terreirão do samba, Amor de vidro – outra composição de Anelis com Russo Passapusso, esta feita com a adesão de Saulo Duarte – merece menção honrosa por se impor como uma das melhores músicas da safra esmaecida. Na primeira parte, Anelis canta Amor de vidro como se fosse estilhaçar o samba. Quando a letra começa a ser repetida, na segunda metade da faixa, entra um acompanhamento mais perto do formato tradicional do samba, com direito ao toque do cavaco de Lelena Anhaia, voz presente no coro.
Anelis Assumpção
Divulgação / Caroline Bittencourt
Ainda no quintal particular de Anelis, Água é samba que ganha registro de tom seco, encorpado com guitarras e com baticum inusual que evidencia o toque da kalimba manuesada por Décio Gioielli. Água é samba da fonte rica de Rodrigo Campos, compositor paulistano que assina o tema em parceria com Anelis.
No fim do disco, quem vai na própria fonte é Anelis, se banhando na praia do reggae ao seguir Receita rápida (Itamar Assumpção e Vera Lúcia Motta, 1996) com propriedade, honrando tanto o nome quanto o sobrenome. Até porque, como diz versos da letra, “quem é farinha no bolo não sola”. (Cotação: * * 1/2)

Fonte: G1 Música – Leia a matéria completa.

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