BRASÍLIA – A apreensão de R$ 6 milhões em espécie levou a Polícia Federal (PF) a suspeitar da relação do deputado federal Antônio Doido (MDB-PA) com um grupo envolvido em saques de valores milionários em agências de bancos no Pará. Grande parte do dinheiro teria sido usado na compra de votos em 2024.
O dinheiro teria origem em desvios de verbas públicas. As informações constam em pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) para abrir investigação contra o parlamentar e foram reveladas nesta segunda-feira (16) pelo site Metrópoles. A apuração começou após duas apreensões milionárias no Pará envolvendo pessoas ligadas ao deputado federal.
Em 4 de outubro de 2024, dois dias antes da votação do 1º turno das eleições, o policial militar Francisco de Assis Galhardo do Vale foi preso ao sacar R$ 5 milhões na cidade de Castanhal (PA). Em 17 de janeiro de 2025, a PF apreendeu R$ 1,1 milhão com Jacob Serruya Neto, então assessor de Antônio Doido.
Em pedido encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF), a PGR pediu a unificação das investigações dos dois casos. A PGR apontou indícios de “crimes potencialmente associados ao exercício do mandato de Deputado Federal, envolvendo o desvio de recursos oriundos de contratos públicos e a subsequente lavagem desses valores”.
A PGR também citou o surgimento de informações sobre o “cometimento de delitos eleitorais e transgressões contra o sistema financeiro nacional”. Por causa desses indícios, a PGR solicitou ao STF a expansão do objeto investigado, que até então era apenas a possível compra de votos e outros crimes eleitorais.
A partir de informações da PF, a PGR afirma que o grupo liderado pelo deputado Antônio Doido “utiliza um complexo sofisticado mecanismo de lavagem de dinheiro, proveniente de desvios de recursos públicos, mediante o suposto pagamento de vantagens indevidas para servidores públicos”.
As afirmações da PGR têm como base o material encontrado pela PF nos aparelhos celulares de Francisco Galhardo e dos outros dois presos ao sacar R$ 5 milhões e as informações enviadas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
A PF encontrou uma série de conversas no celular de Francisco Galhardo ao prendê-lo no momento de um saque de R$ 5 milhões, em Castanhal, dois dias antes do 1º turno das eleições municipais de 2024. As conversas e os dados enviados pelo Coaf revelaram um organizado esquema de saques milionários e posterior transporte de valores que os investigadores suspeitam ser de Antonio Doido.
Entre março de 2023 e outubro de 2024, o PM Francisco Galhardo fez 15 saques de dinheiro em espécie que totalizam R$ 48,8 milhões, de acordo com dados citados pela PGR. Os valores foram sacados em duas agências do Banco do Brasil, em São Miguel do Guama e Castanhal.
Apenas entre junho e outubro de 2024, nas proximidades do período de campanha eleitoral, o policial sacou R$ 26 milhões. De acordo com a PGR, os valores têm origem em uma empresa em nome da esposa do deputado Antônio Doido.
Conversas encontradas no celular do PM Francisco Galhardo mostram os bastidores dos saques e das entregas de valores. Em algumas delas, o próprio Antônio Doido aparece dando ordens de valores a serem entregues ou é citado pelo PM como ordenador dos pagamentos.
No saque de R$ 5 milhões que resultou na prisão do PM, por exemplo, há uma mensagem do deputado ordenando a entrega de R$ 380 mil para uma pessoa de nome Geremias.
A PF descobriu que, no dia do saque, Geremias falou com Francisco Galhardo por mensagem. Às 11h47, ele envia ao PM: “Seu Antônio mandou pegar um dinheiro contigo em Castanhal ai. É.. que horas eu posso te encontrar em Castanhal ai?”.
Horas depois, às 14h20, o PM manda mensagem para o deputado: “Entregar quanto para o neguinho?”. E o deputado responde: “380k”.
Ao fazer o flagrante da apreensão dos R$ 5 milhões, a PF encontrou cerca de R$ 4,6 milhões com um homem dentro da agência do banco. Outros R$ 380 mil, valor citado na mensagem de Antônio Doido, foram encontrados em um carro na porta da agência em que estavam o tal Geremias e o PM Francisco Galhardo.
A defesa do deputado Antônio Doido disse em nota que “repudia o vazamento de informações sigilosas de investigações em curso no STF e adotará medidas destinadas à responsabilização dos responsáveis pelo criminoso vazamento”.
“Acerca dos questionamentos formulados, todos eles são fruto de ilações e já foram devidamente esclarecidos nos autos. O Deputado já se colocou à disposição das autoridades para prestar os esclarecimentos solicitados e tem tranquilidade em relação a todos os atos por ele praticados no curso do seu mandato parlamentar”, disse a defesa do congressista.
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