BRASÍLIA — Tucanos pintados a óleo aguardam atentos os visitantes no rol de entrada do PSDB em Brasília, e corredores estampados com as muitas versões do mascote amarelo e azul nestes 37 anos de partido dão o tom do apreço dos políticos pela sigla e pela identidade que nasceu com ela. A história, aliás, reforça que a legenda surgiu primeiro como o partido dos tucanos; depois como PSDB.
A identidade ali criada estampou eleição e reeleição de Fernando Henrique Cardoso para presidência da República — ocasiões em que o partido alcançou a cadeira mais importante do país. Símbolos também apareceram quando o partido beliscou a trave em 2014, e perdê-los é o principal entrave para aqueles que não concordam com grandes mudanças nos rumos do partido — entre os mais resistentes, Aécio Neves.
O diretório nacional, contudo, é unânime: uma fusão é necessária para garantir a sobrevivência do PSDB. A principal opção avaliada pelos tucanos é se unir a Republicanos, Podemos e Solidariedade. A articulação faria o partido saltar dos atuais 11 deputados para 76, transformando-o na segunda maior bancada da Câmara.
Para o presidente dos tucanos em Minas Gerais, deputado Paulo Abi-Ackel, sacrifícios deverão ser feitos para garantir a continuidade da história do PSDB. “Se for necessário abrir mão da sigla, que é representativa e integra a história brasileira, para a conjunção dar certo… Faremos esse sacrifício”, analisou. O deputado também é secretário-geral do partido.
Com trânsito entre figurões do partido, como Aécio e o presidente Marconi Perillo, Abi-Ackel admite que a negociação com o Republicanos avançou e o partido quer participar da construção de um bloco em direção ao Centro, uma alternativa à polarização PT e PL. “O PSDB está seguindo o movimento que muitos outros partidos têm feito. Há uma convicção de que o país não pode permanecer nessa anarquia partidário com mais de 30 siglas… Quinze das quais têm linhas ideológicas absolutamente semelhantes. É prejudicial para a qualidade do debate”, defende.
“Estamos buscando uma fórmula para convergência. Não é fácil e nem é simples. O Brasil é um país com 27 Estados, há núcleos que se opõem. Mas, acho que estamos caminhando para, dentro de duas ou três semanas, poder anunciar para o Brasil um novo grande partido, uma via de centro”, completo.
O mau desempenho do PSDB na última eleição municipal com o encolhimento em redutos históricos acendeu o alerta no diretório nacional, que partiu para intensificar as articulações e encontrar uma saída. Federações com MDB e PSD estiveram sobre a mesa da negociação capitaneada pelo presidente tucano Marconi Perillo. Mas, as conversas travaram em certo ponto.
A opção favorita, hoje, é a fusão. Mas, detalhes jurídicos e discussões sobre a identidade do novo partido e as individualidades de cada uma das siglas tornam o processo lento. A situação está adiantada em relação ao Podemos, presidido pela deputada Renata Abreu (SP), e a expectativa é que as conversas avancem nos próximos dias com Marcos Pereira e o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), presidente da Câmara.
As costuras também têm na mira as eleições de 2026. Em um ano e seis meses, os brasileiros vão às urnas escolher governadores, senadores, deputados estaduais e federais e o presidente da República. Em Minas Gerais, PSDB, Republicanos e Podemos têm discutido internamente com suas bancadas os nomes que pretende lançar; a discussão pode chegar a um impasse em relação às duas cadeiras a que MG terá direito para o Senado Federal.
O PSDB pode lançar Aécio Neves ou Abi-Ackel, segundo fontes; o Republicanos deseja eleger o deputado Euclydes Pettersen, e o atual senador Carlos Viana (Podemos-MG) confirmou o interesse em disputar a reeleição.
“Por enquanto, estamos construindo harmonias nos Estados de forma que consigamos essa composição em um quadro maior”, ponderou Abi-Ackel.
O que é fusão? A Lei dos Partidos Políticos, de 1995, permite que as siglas decidam se unir; assim, os partidos existentes são extintos e criam uma nova sigla — um exemplo é o que ocorreu em 2022, quando DEM e PSL se fundiram para criar o União Brasil. A legislação determina que as direções dos dois partidos interessados na fusão elaborem estatutos e programas comuns, e, depois, elejam em votação conjunta o órgão de direção nacional. O grupo eleito é que fará o registro do novo partido.
O que é federação? As federações podem ser formadas por dois ou mais partidos e têm duração mínima de quatro anos. A aliança vale para as eleições para presidência, Senado, Estados e prefeituras, mas também para as eleições da Câmara dos Deputados, das assembleias e das câmaras dos municípios.
A norma prevê que, para as eleições proporcionais, as cadeiras serão distribuídas a partir dos votos de todos os partidos que integram a federação. Sobre eles são aplicados os quocientes eleitoral e partidário.
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