BRASÍLIA – Mesmo com a queda de Juscelino Filho (União Brasil), seu partido deve continuar com a pasta. O mais cotado para substituí-lo é o deputado federal Pedro Lucas Fernandes, do Maranhão, que é o líder da legenda na Câmara. Homem de confiança do presidente nacional da sigla, Antônio Rueda, ele também tem o aval do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).
Ambos, inclusive, indicaram Pedro Lucas durante almoço com a ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), na terça-feira (8), quando já se sabia da demissão de Juscelino, após ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal (STF) sob acusação de desvio de emendas parlamentares.
Oficialmente, conforme declarado pelo próprio Juscelino e publicado no Diário Oficial da União desta quarta-feira (9), ele pediu para sair. O ex-ministro alegou que não queria criar constrangimento ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No entanto, Juscelino tomou a decisão após um telefonema do petista. No início da tarde, ele falou novamente com o ministro e pediu que apresentasse a carta de demissão.
Lula viajou para Tegucigalpa, capital de Honduras, onde participa da 9.ª Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), nesta quarta. Ele só deve bater o martelo sobre o novo ministro das Comunicações no retorno ao Brasil. Já Juscelino retorna à Câmara. Ele é deputado federal pelo União Brasil do Maranhão.
O União Brasil comanda outros dois dos 37 ministérios do governo Lula: o do Turismo, com Celso Sabino, e o da Integração e do Desenvolvimento Regional, que, apesar de estar com Waldez Góes, do PDT, partiu de uma indicação da legenda. O União Brasil negocia uma federação com o PP do senador Ciro Nogueira (PI).
Indicado pelo União Brasil para substituir Juscelino Filho, Pedro Lucas Fernandes foi eleito para a Câmara dos Deputados pela primeira vez em 2019, pelo PTB de Roberto Jefferson. Em 2022, já no União Brasil, foi reeleito com 159.786 votos – o segundo mais votado do Maranhão. Desde fevereiro de 2025, é líder do União Brasil na Câmara. Antes, era vice-líder do governo no Congresso, posição que ocupou por dois anos.
Nascido em São Luís (MA) e com 45 anos, Pedro Lucas é filho do ex-deputado Pedro Fernandes (União), atual prefeito de Arame (MA). Começou a carreira política eleito vereador em São Luís em 2012, pelo PTB, sendo reeleito em 2016. Em 2017, quando era vereador, foi nomeado por Flávio Dino (à época no PCdoB), então governador do estado, para presidir a Agência Executiva Metropolitana (Agem) do Maranhão.
Pedro Lucas e o pai também são considerados próximos da família Sarney, que por décadas comandou a política maranhense, até perderem eleições e espaço no Estado para Flávio Dino. Recentemente, Pedro Lucas apresentou a proposta de uma sessão na Câmara dos Deputados em homenagem aos 40 anos da redemocratização e a Sarney, realizada em março.
Hoje na condição de ministro do STF, Flávio Dino é o relator do processo que culminou na queda de Juscelino Filho. Cabe ao ex-governador do Maranhão, que ganhou o cargo no Supremo por indicação de Lula, encaminhar as conclusões da PGR para votação na Primeira Turma da Corte, após ouvir a defesa. Na sequência, os ministros vão decidir se há elementos suficientes para aceitar a denúncia e torná-lo réu.
Dinheiro foi para cidade administrada por irmã do ministro
Juscelino foi indiciado pela PF em 12 de junho de 2024 sob suspeita de participar de organização criminosa, lavagem de dinheiro, corrupção passiva, falsidade ideológica e fraude em licitação. Na época, o presidente Lula afirmou que ele seria afastado do cargo de ministro caso fosse denunciado pela PGR.
A denúncia da PGR se baseia nas investigações da Operação Benesse, da Polícia Federal, fase ostensiva da investigação aberta em setembro de 2023. Na ocasião, a irmã de Juscelino, Luanna Rezende, foi afastada da prefeitura de Vitorino Freire (MA), que recebeu as emendas alvo da investigação.
Os recursos públicos destinados por Juscelino Filho foram transferidos à Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e, na sequência, foram parar na prefeitura da irmã dele.
A Codevasf é controlada por partidos do Centrão. Ao menos quatro empresas de amigos, ex-assessoras e uma cunhada de Juscelino ganharam mais de R$ 36 milhões em contratos com a prefeitura de Vitorino Freire.
Auditoria da Codevasf concluiu que houve irregularidades em obras realizadas em Vitorino Freire com recursos indicados por Juscelino. Auditores analisaram dois contratos que somam R$ 8,9 milhões e tratam da estrada do ministro e outras ruas da cidade maranhense. Também constataram pagamentos indevidos à empresa contratada para as obras.
Troca de mensagens com empresário complicaram o ministro
A PF abriu inquérito contra Juscelino a partir de uma reportagem do jornal O Estado de São Paulo. Em janeiro de 2023, o Estadão revelou que o ministro, quando era deputado pelo União Brasil, destinou recursos do orçamento secreto para asfaltar uma estrada na cidade que passava pela fazenda da sua família.
Segundo a PF, o então deputado recebeu propinas em troca da destinação dos recursos e do direcionamento de contratos a certas empresas, em especial as realizadas pela empresa Construservice, cujo sócio oculto, segundo investigadores, é o empresário Eduardo José Barros Costa, conhecido como Eduardo DP.
Juscelino passou a ser investigado após a PF encontrar mensagens entre ele e Eduardo DP no celular do empresário apreendido em uma operação. Como revelou a Folha de S. Paulo, as mensagens mostram diálogos do empresário e de Juscelino sobre a execução de obras e a destinação das emendas.
Segundo relatório da PF, as mensagens analisadas no inquérito reforçam a “atuação criminosa de Juscelino Filho” e demonstram que a “sua função na Orcrim (organização criminosa) era conhecida por todos os membros” do suposto grupo chefiado por Eduardo DP.”
“Resta cristalina a relação criminosa pactuada entre Juscelino Filho e Eduardo DP”, diz trecho de um relatório da PF. De acordo com o documento em que a PF pediu busca contra Juscelino Filho, o grupo do ministro foi responsável por “suposto desvio ou apropriação e uso indevido de, no mínimo, R$ 835,8 mil”.
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