BRASÍLIA — Deputados do PSOL e de partidos aliados declaram abertamente que Arthur Lira (PP-AL) interviu pela cassação do mandato de Glauber Braga (PSOL-RJ) — como decidiu o Conselho de Ética da Câmara nesta quarta-feira (9) à noite. Eles apontam articulações de Lira nos bastidores e criticam a conivência do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que até cancelou a reunião do colégio de líderes desta quinta-feira (10).
Depois da votação do relatório pela cassação de Glauber no Conselho de Ética, o deputado disse que fará uma greve de fome e permanecerá nas instalações da Câmara até que o processo seja concluído. Ele ainda pode recorrer à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), e o processo obrigatoriamente passa pelo plenário, onde são necessários os votos de pelo menos 257 deputados para cassar um mandato.
Lira intervém em cassação de Glauber, apontam aliados
Glauber é firme ao dizer que Lira quer cassá-lo pelas denúncias feitas sobre o Orçamento Secreto e a distribuição de emendas enquanto o alagoano presidia a Câmara dos Deputados. O mandato de Arthur Lira terminou em fevereiro, quando Hugo Motta assumiu graças a uma articulação capitaneada por seu antecessor.
O deputado do PSOL é alvo de um processo de cassação pelo episódio em que reagiu aos ataques de um militante do Movimento Brasil Livre (MBL) e o expulsou da Câmara dos Deputados a chutes e pontapés. O episódio aconteceu em 16 de abril de 2024, e a representação contra Glauber chegou ao Conselho de Ética pelas mãos da bancada do Partido Novo. Ele diz que o caso é um pretexto para cassá-lo.
O relator do processo, deputado Paulo Magalhães (PSD-BA), apresentou no início deste mês um parecer favorável à cassação do mandato de Glauber. A posição do relator gerou estranhamento na bancada do PSOL. Interlocutores haviam dito a membros do partido que Magalhães sugeriria uma punição mais branda a Glauber Braga — prevendo uma suspensão por três meses. É dito nos bastidores que o relator optou por mudar a punição e sugerir a cassação pouco antes da data marcada para apresentação do parecer — por cobrança de Arthur Lira.
A realização da sessão nesta quarta-feira foi outro revés sofrido pelo PSOL, que articulava até terça-feira (8) à noite o adiamento da reunião. A líder do partido, Talíria Petrone (PSOL-RJ), contava com o apoio manifesto dos líderes de PSD, Antônio Brito (BA), e PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), para não dar quórum e evitar que a sessão acontecesse. A articulação não deu certo, e a sessão começou no início da tarde, sendo marcada por apelos de deputados do PSOL e aliados de PT e PSB. Os parlamentares disseram durante e depois da votação que “forças ocultas” interferiram na articulação que era costurada.
“Motta tomou para si a vingança de Lira contra Glauber”, avalia líder do PSOL
Os deputados aliados de Glauber Braga criticaram diretamente o presidente Hugo Motta e apontaram que ele agiu com conivência com Arthur Lira. O PSOL contava com o início da ordem do dia no plenário da Câmara, que costuma acontecer às 16h às terças e quartas-feiras, para encerrar a sessão no Conselho de Ética e adiar a votação do parecer do relator pela cassação de Glauber. Mas, eles não contavam com um fato típico: Motta só permitiu o início da ordem do dia às 19h.
Enquanto a bancada ainda tentava recorrer a Motta para abrir a sessão do plenário, um aliado de Lira, o deputado Delegado Fabio Costa (PP-AL) protocolou no Conselho de Ética um requerimento de encerramento de discussão. Aprovado, ele garantiu uma rápida votação para o relatório favorável à cassação.
Os deputados afirmam que Hugo Motta agiu em conluio com Arthur Lira. A líder do PSOL, Talíria Petrone, disse ainda que tentava contato com Motta por telefone desde 11h, sem sucesso; o presidente também não respondia às mensagens dela.
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