O humor autorreferencial presente numa cena pós-créditos, que põe Daniel LaRusso fazendo piada sobre pizza ao lado de outro personagem importante (ele só aparece neste instante) do primeiro “Karatê Kid”, lançado em 1984, aponta para um dos principais problemas de “Karatê Kid: Lendas”, em cartaz a partir desta quinta-feira (8).
A estrutura deste sexto filme (incluindo a repaginada feita em 2010) é praticamente a mesma, com um garoto que acaba de se mudar para uma nova cidade atormentado por valentões locais e tendo que resolver tudo numa competição de artes marciais, mas faltam elementos que foram determinantes para o sucesso do primeiro.
O humor é um deles. Embora “Lendas” tenha uma brincadeirinha aqui e outra ali, não há nada próximo da construção da amizade entre LaRusso e o Sr. Myagi, que garante bom divertimento no método nada usual para ensinar caratê e também muita ternura, estabelecendo uma emocionante relação entre pai e filho.
Mesmo com o protagonista ganhando dois mestres, com o tio Han (Jackie Chan, do filme de 2010) e LaRusso, o roteiro não consegue criar nenhuma relação mais forte entre eles, preferindo incluir uma “barriga” que parece saída da franquia “Rocky 4”, quando entra no mundo do boxe, sem qualquer grande efeito na trama.
Também se desperdiça a chance de abordar, com bom senso, a relação entre Estados Unidos e China. Diferentemente do filme anterior, o texto faz o caminho inverso, com o jovem chinês Li Fong indo parar em Nova York com a mãe. Seria a oportunidade para trabalhar um dos conceitos da arte marcial de Miyagi.
A árvore que estampa o quimono de LaRusso nos primeiros filmes é a junção de dois galhos de lugares diferentes, que pode muito bem ser representada em “Lendas” pelas escolas de Han e do discípulo americano. Esse laço poderoso, que une culturas diversas, acaba sucumbindo ao óbvio, mostrando apenas um caratê mais turbinado.
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