Com o novo ciclo de gestão nas prefeituras, iniciado em janeiro deste ano, mulheres foram nomeadas para chefiar 37 das 130 secretarias municipais que compõem a estrutura do Executivo das oito cidades mais populosas de Minas Gerais. O número indica que, somadas as pastas, mulheres lideram apenas 28% (menos de três de cada dez) dos órgãos responsáveis por planejar e gerir a prestação dos serviços públicos em localidades mineiras com população superior a 300 mil habitantes.
A socióloga Jéssica Rivetti, subcoordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher (Nepem) da UFMG, avalia que o número está longe do ideal. “Ainda é insuficiente quando consideramos que as mulheres representam 51,2% da população mineira e, em muitos casos, têm maior escolaridade em comparação aos homens”, pontua.
Contagem, na região metropolitana de BH, é a cidade com menos mulheres à frente das secretarias. Curiosamente, esta é uma das três, entre as oito cidades analisadas, governadas por uma prefeita. Lá, das 17 pastas, apenas uma (5,8%) é chefiada por uma mulher. Em nota, a administração do município disse que “tem oferecido muitas oportunidades para a participação de mulheres”, mas que, “apesar dos esforços da prefeita em convidar mais mulheres, ela não teve o retorno necessário para garantir uma maior participação feminina nos cargos de primeiro escalão”. A prefeitura argumentou ainda que “não basta apenas disposição de ampliar espaços, é preciso que as mulheres também queiram ocupá-los”.
Na capital mineira, há três mulheres à frente de secretarias, o que representa cerca de 17% dos 18 cargos. Até o início de fevereiro, elas eram quatro, mas Adriana Branco Cerqueira foi exonerada da pasta de Esportes – interlocutores da prefeitura disseram que o cargo deve ser ocupado por um homem.
Em Ribeirão das Neves, na região metropolitana, duas das 11 secretarias são comandadas por mulheres, o que representa 18% do secretariado. Em seguida, aparecem as prefeituras de Uberlândia (26%), Montes Claros (28%), Uberaba (29%) e Juiz de Fora (47,62%).
A secretária de Educação de Uberaba, Juliana Petek, aponta que o maior desafio de ser mulher em posição de liderança é a necessidade constante de ter suas decisões validadas. “Na minha história de quase 20 anos de jornada no serviço público, eu perpassei por muitos espaços hostis, de ter que ser validada por um homem”, avaliou.
Em contrapartida, Betim, na região metropolitana de BH, desponta como a única entre as oito cidades mais populosas de Minas a ter na prefeitura a maior parte do secretariado composta por mulheres. Por lá, sete das 12 pastas (58,33%) estão sob comando feminino. “Mais do que um número, essa realidade na gestão municipal de Betim demonstra nosso compromisso com um governo moderno e inclusivo, em que o talento e a qualificação são os critérios determinantes para a escolha das lideranças, independentemente de gênero”, defende o prefeito de Betim, Heron Guimarães.
Maior parte delas comanda a área social
A maior parte das secretarias municipais comandadas por mulheres nas oito principais cidades de Minas é voltada às áreas social (6), de educação (5), planejamento e administração (5), serviços urbanos (5) e de cultura (4). Por outro lado, o levantamento mostra que, entre as prefeituras analisadas, somente a de Juiz de Fora tem uma representante feminina à frente da Secretaria de Fazenda.
A socióloga Jéssica Rivetti usa o termo “maternagem pública” para explicar a exclusão das mulheres de certos espaços do poder. “No âmbito político, a associação das mulheres ao cuidado se reflete na tendência de serem designadas para secretarias ligadas a áreas sociais, enquanto os homens ocupam cargos que envolvem maior articulação política e gestão de orçamentos expressivos”.
Atuação feminina nas eleições é baixa
Embora sejam maioria na população mineira (51,2%), as mulheres continuam a ser minoria na política. Além de terem menor participação no comando das secretarias, as mulheres mantiveram presença minoritária tanto entre as candidaturas quanto nas vitórias durante as eleições de 2024.
Com base em dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) constatou que elas representaram 20% das candidaturas à Prefeitura de Belo Horizonte nos últimos 24 anos. Isso quer dizer que, de cada cinco inscrições na Justiça Eleitoral, quatro foram masculinas. Das eleições de 2000 até a mais recente, foram 69 candidatos inscritos para o cargo majoritário, sendo somente 14 mulheres. Nenhuma delas venceu ou foi ao segundo turno.
Em Minas Gerais, desde janeiro deste ano, apenas 68 das 853 prefeituras estão sob o comando de mulheres, o que representa 7,97% do total.
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