(foto: Jorge Gontijo/Estado de Minas – 30/09/2001)
Maior campeo da histria do Cruzeiro, com 15 ttulos, o ex-jogador Ricardinho revisitou o passado e contou a sua caminhada at o futebol profissional. Nascido em Passos, no Sudoeste de Minas Gerais, em 24 de junho de 1976, o meio-campista chegou Toca em 1990, aps se destacar pelo time infantil do Esportivo, clube de sua cidade, em um amistoso contra a Raposa.
“O Esportivo de Passos jogava a primeira diviso do Campeonato Mineiro, e a gente sempre ia aos jogos. Num desses jogos, entre Cruzeiro e Esportivo, fizemos a preliminar. Terminou o jogo, estvamos passando pelo tnel e um cara me segurou pelo brao. ‘Voc tem vontade de jogar no Cruzeiro?’. Eu respondi: ‘muita vontade!’. Era o Salvador Masci, na poca presidente do Cruzeiro”, iniciou Ricardinho, em entrevista ao Cruzeiro Cast.
O pai de Ricardinho, que trabalhava como motorista de caminho em uma usina de cana-de-acar de Passos, foi procurado por um funcionrio do Cruzeiro. E eles viajaram 350 quilmetros at Belo Horizonte para o teste. O responsvel por aprovar o ento adolescente de 14 anos foi Eduardo Amorim, meia campeo da Copa Libertadores de 1976, que trabalhava na base celeste.
Mas Ricardinho demorou a ter oportunidades. No primeiro ano na Toca, apenas treinava. Na segunda temporada, precisou fazer novo teste para ser reintegrado ao grupo. Ele s ganhou chances em 1993, quando o juvenil caiu nas mos do tcnico Osvaldo Rossi. Em dado momento, Donizete Amorim, camisa 10 da equipe, subiu ao time principal. O garoto de Passos enfim foi escalado.
“O Donizete Amorim, camisa 10 do time, muito bom jogador, foi para o profissional. Sobrou a vaga dele, e eu entrei como titular. Jogamos contra o Frigoarnaldo, em Contagem, e empatamos por 3 a 3. Eu fiz os trs gols. No sa do time mais. Veio o Campeonato Mineiro, fiz um monte de gol e no passei pelo jnior. No fim do ano, fui chamado para o profissional”.
Ricardinho
A mudana de posio

No juvenil, Ricardinho era armador. No profissional, virou volante. O pedido partiu do tcnico nio Andrade, que aconselhou o garoto de 17 anos a inspirar o seu jogo em Toninho Cerezo. O veterano meio-campista tinha 39 anos na poca e era a voz da experincia no Cruzeiro.
“O Sr. nio me disse: ‘voc corre muito com a bola. Para jogar no meio-campo, no precisa correr muito. Quero que voc distribua a bola. Fique de frente para o jogo. J viu o Cerezo jogar? Observe-o. Ele no dribla ningum, mas toca a bola e distribui o jogo. Da me aproximei muito do Cerezo. Fui me adaptando como volante, de frente para o jogo tinha facilidade, e entrei no time principal”.
Toninho Cerezo foi um jogador de muita classe no toque de bola, em lanamentos e finalizaes. dolo de Atltico, Roma, Sampdoria e So Paulo, ele disputou as Copas do Mundo de 1978 e 1982 pela Seleo Brasileira. No Cruzeiro, marcou seis gols em 31 partidas em 1994, ajudando a equipe a permanecer na elite do Campeonato Brasileiro.

Ainda na base, Ricardinho acompanhou a chegada de Ronaldo ao Cruzeiro, inicialmente para os juvenis, em janeiro de 1993. No primeiro compromisso, o atacante oriundo do So Cristvo-RJ fez dois gols em jogo contra o Amrica, a ponto de ser promovido diretamente ao elenco principal, sem sequer integrar os juniores. O ex-volante relembrou o comeo do camisa 9 na Toquinha.
“O diretor do Cruzeiro falou com a gente: ‘Vai chegar um centroavante do Rio de Janeiro, que foi contratado. E ele vai jogar com vocs contra o Amrica’. O centroavante nosso era um dos artilheiros. Ele disse: ‘vai sair o centroavante e entrar o Ronaldo’. E a gente no conhecia quem era Ronaldo, no tinha visto treinamento, nem nada. Ele chegou e foi para o jogo. Contra o Amrica, j fez dois gols, daquele jeito, avassalador, levando todo mundo, muito tcnico. No intervalo do jogo, o diretor do Amrica disse que era para tirar o Ronaldo para ficar juvenil contra juvenil, porque ele era muito acima”.
Ricardinho, dolo do Cruzeiro, sobre Ronaldo Fenmeno
Ronaldo marcou 56 gols em 58 jogos em pouco mais de um ano no Cruzeiro. Vendido ao PSV Eindhoven, da Holanda, aps a Copa do Mundo de 1994 (US$ 6 milhes), o Fenmeno foi substitudo justamente por Ricardinho em sua ltima partida pela Raposa, no empate por 1 a 1 com o Botafogo, em amistoso no Mineiro.
Titular, goleador e multicampeo

A partir de 1995, Ricardinho jogou com regularidade no Cruzeiro e contribuiu para a “reinveno” da posio. O volante franzino e de baixa estatura era o “motor” da equipe, pois costumava levar vantagem na velocidade. Alm disso, destacava-se pela qualidade nas finalizaes, sobretudo em chutes de longa distncia e cobranas de falta. Sua presena em campo era uma arma extra para o time, que no dependia somente de armadores e atacantes para fazer os gols.
De 1994 a 2002 pelo Cruzeiro, Ricardinho ganhou Copa Libertadores (1997), Copa do Brasil (1996 e 2000), Campeonato Mineiro (1994, 1996, 1997 e 1998), Recopa Sul-Americana (1998), Copa Sul-Minas (2001 e 2002), Copa Ouro (1995), Copa Master (1995), Copa Centro-Oeste (1999), Copa dos Campees Mineiros (1999) e Supercampeonato Mineiro (2002). Contando a segunda passagem, em 2007, o volante jogou 441 vezes e marcou 46 gols – a maioria em arremates de fora da rea. Por ser magro e gil, ele recebeu o apelido “Mosquitinho Azul” do locutor esportivo Alberto Rodrigues.
Veja abaixo um compilado com gols de Ricardinho pelo Cruzeiro
Copa do Brasil de 2000
O ano mais artilheiro de Ricardinho no Cruzeiro foi o de 2000, quando contabilizou 13 gols em 68 jogos. Naquela temporada, a Raposa conquistou a Copa do Brasil de forma invicta, deixando para trs Gama, Paran, Caxias, Athletico-PR, Botafogo, Santos e So Paulo. O time ainda competiu no Campeonato Mineiro (vice), na Copa Mercosul (quartas de final) e no Campeonato Brasileiro (liderou a primeira fase e caiu para o Vasco na semifinal).
A Copa do Brasil de 2000 vista como um dos trofus mais representativos do Cruzeiro devido s circunstncias da final contra o So Paulo. O jogo de ida, no Morumbi, terminou empatado por 0 a 0. Ricardinho esteve perto de balanar a rede nesse duelo, j que carimbou uma bola na trave esquerda de Rogrio Ceni no segundo tempo em batida de falta de “trs dedos”.
No confronto de volta, diante de 85 mil torcedores no Mineiro, o So Paulo comeou ganhando j na etapa final, com gol de Marcelinho Paraba. Entretanto, o Cruzeiro lutou at o fim e conseguiu a virada. Fbio Jnior empatou aos 34 minutos do segundo tempo com assistncia de Mller em jogada iniciada por Ricardinho. E Geovanni fez 2 a 1, aos 44, cobrando falta.

“O Mller entrou pilhado, pedindo a bola. Houve um lance em que eu toquei a bola para o Mller, ele fez a parede, tocou para o Fbio e saiu o gol. Depois, o Axel (volante do So Paulo) estava de costas, eu acelerei em cima dele para tentar tomar a bola, forando o recuo. E o Geovanni, na velocidade que estava, passou o Rogrio Pinheiro e iria fazer o gol”, recordou Ricardinho.
“As faltas de longe, eu batia. E o Geovanni, mais colocado. Mas o Mller disse que era para bater em cima da barreira, forte. Assim que ele pediu para bater forte, o Geovanni chutou forte. E o Donizete Oliveira deu uma empurradinha na barreira. Nesse tranco, a bola passou debaixo da perna de um deles. E o Rogrio ficou desolado. Se o Donizete no empurra, talvez a bola batesse na perna de um dos jogadores do So Paulo e voltasse”.
Ricardinho, sobre o gol do Cruzeiro na final da Copa do Brasil
Ricardinho saiu do Cruzeiro em agosto de 2002, aos 26 anos, para o Kashiwa Reysol, do Japo – que tambm havia levado o tcnico Marco Aurlio e o atacante Edlson Capetinha. O volante ficou no futebol japons por cinco temporadas, retornando ao Brasil em 2007 justamente para defender a Raposa.
A segunda passagem pela Toca foi dificultada por uma leso crnica no tornozelo. O Mosquitinho at tentou seguir no futebol ao se transferir para o Corinthians, mas as limitaes fsicas comprometeram a parte tcnica. Assim, a aposentadoria dos gramados ocorreu de forma precoce, aos 31 anos.

Ao parar de jogar futebol profissionalmente, Ricardinho entrou para o ramo comercial. Ele se tornou proprietrio da distribuidora de chinelos “R8”, que trabalha com as marcas Grendene e Ipanema. Seu principal cliente o atual proprietrio da SAF do Cruzeiro, Pedro Loureno, dono dos Supermercados BH. Segundo o ex-volante, a parceria j dura mais de 11 anos.
“Quando a gente para de jogar futebol, muda totalmente de vida. Realmente difcil. Parei com 31 anos, muito novo. Numa dessas oportunidades, fui jogar futebol perto da fazenda do Pedrinho BH. Era um futebol beneficente em Abaet. Encontrei ele e o Bruninho, um pessoal humilde demais, cruzeirenses fora de srie. Nessas conversas, ele me pediu para passar no escritrio dele”.
“Encontrei o Pedro poucas vezes, trocamos umas ideias, um cara gentil demais. Ele passou metade das lojas para a gente atender como distribuidores de chinelos. Conseguimos montar a empresa rapidamente para atender aos Supermercados BH. Distribumos os chinelos Rider e Ipanema. Sou grato por ele ter acreditado na gente Todos l dentro so uma simplicidade. Isso foi h 11 anos mais ou menos”, concluiu Ricardinho, que reside com a famlia em BH e far aniversrio de 49 anos nesta tera-feira (24/6).

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