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Fora de cena há 20 anos, Tim Maia ainda é a voz mais forte do soul e do funk do Brasil

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Na noite de 8 de março de 1998, um domingo, haveria show de Tim Maia no Teatro Municipal de Niterói, no estado do Rio de Janeiro. Mas não houve. Ou quase houve. Tim – “o cantor que mais comparece a shows no Brasil”, como ele se autodefinia, gozador, para ironizar a justa fama de faltar aos próprios shows – foi. Mas não conseguiu cantar. Até soltou o vozeirão grave no primeiro verso de Não quero dinheiro (Só quero amar), o petardo autoral de 1971 que era tiro certeiro na plateia. Mas a voz de baixo-barítono não completava o verso da primeira música do roteiro do show que Tim tinha idealizado, com orquestra, para ser gravado ao vivo e dar origem a um disco acústico.
Tim, então, saiu de cena. E não voltou. Nunca mais. Internado em hospital da cidade fluminense de Niterói (RJ), Sebastião Rodrigues Maia (28 de setembro de 1942 – 15 de março de 1998) sairia definitivamente de cena dali a uma semana, em outro domingo. Vítima dos excessos dos 56 anos incompletos que tinha vivido a mil por hora. Sem freios, inclusive na língua.
Fora de cena há 20 anos, Tim Maia permanece lendário, mitológico e memorável como a voz mais forte e bem-sucedida do soul do Brasil. Muitos tentam seguir a receita desse cantor e compositor carioca que traduziu o soul e o funk norte-americanos para o idioma da música brasileira. Mas todos soam como genéricos ou, no máximo, como discípulos que somente reforçam a personalidade do mestre, tão talentoso quanto temperamental, a ponto de ter tido passagens atribuladas por todas as gravadoras do Brasil.
Criado na Tijuca, bairro da Zona Norte da partida cidade do Rio de Janeiro (RJ), Tim se deixou contagiar pelo rock’n’roll dos anos 1950, pela batida diferente que João Gilberto apresentou ao mundo em 1958 no toque do violão revolucionário e pela bossa das vozes do grupo Os Cariocas (com o qual gravaria álbum em 1997, Amigo do rei, na fase crepuscular da carreira fonográfica). Mas Tim se encontrou mesmo quando, em viagem atribulada pelos Estados Unidos entre o fim dos anos 1950 e o início da década de 1960, foi na fonte da música negra-americana, bebendo do soul, do funk que emergiu nos anos 1960 e do R&B propagado pelo som da (gravadora) Motown.
Na volta ao Brasil, Tim se revelou um gênio ao misturar tudo isso com os ritmos brasileiros. Juntou soul com samba, soul com baião, soul com xaxado. E compôs baladas matadoras como Azul da cor do mar (Tim Maia, 1970) e funkaços como Não vou ficar (Tim Maia, 1969), tiro certeiro de Roberto Carlos nas paradas quando o Rei da juventude dos anos 1960 resolveu enegrecer a discografia no fim daquela década de 1960.
Mais tarde, esse artista de peso – em todos os sentidos – ainda misturou soul e funk com a batida da disco music, fusão que deu o tom festivo do álbum Tim Maia Disco Club (1978), um dos melhores títulos de discografia irregular que foi sendo adoçada com doses progressivas de glicose a partir dos anos 1980, década do tecnopop e do império da dupla de compositores Michael Sullivan & Paulo Massadas nas paradas musicais do Brasil (dupla, aliás, lançada por Tim em 1983 com a gravação da balada Me dê motivo).
Tim Maia
Reprodução da capa do álbum ‘Sufocante’, de 1984
O suprassumo da obra fonográfica de Tim Maia está concentrado nos quatro álbuns que o cantor lançou pela gravadora Polydor entre 1970 e 1973, todos batizados com o nome do artista. O Tim Maia de 1970 é antológico, um dos melhores discos da história da música brasileira. O Tim Maia de 1971 roça o alto nível do álbum de estreia do cantor. Já o de 1972 soa (bem) inferior. O cantor recupera (parcialmente) a forma no Tim Maia de 1973, por conta de dois irresistíveis sambas com acento de soul, Gostava tanto de você (Edson Trindade) e Réu confesso (Tim Maia).
De 1975 em diante, os repertórios dos álbuns se tornam menos coesos, ainda que uma ou outra música tenha se destacado a ponto de garantir lugar nos roteiros pouco variáveis dos shows do Síndico, casos de Você eu, eu e você (Juntinhos) (Tim Maia, 1980) e Do Leme ao Pontal (Tim Maia, 1981). Quando Tim ia, os shows dele eram inesquecíveis. Uma festa que alternava as músicas feitas para esquentar sovaco com as canções criadas para melar cuecas, como ele fazia questão de explicar, dando a receita de um sucesso que somente deu certo porque se tratava de um cantor e de um compositor singular como Sebastião Rodrigues Maia, grande nome da música do Brasil.

Fonte: G1 Música – Leia a matéria completa.

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