A leishmaniose tegumentar (LT) é uma doença infecciosa causada pela picada de mosquitos flebotomíneos, conhecidos como mosquito-palha, que estão infectados por protozoários do gênero Leishmania. Trata-se de uma zoonose, afetando tanto animais silvestres quanto domésticos, com potencial de transmissão aos seres humanos em áreas silvestres, rurais e periurbanas. As manifestações clínicas da LT podem variar de lesões cutâneas isoladas a formas mucosas graves. As lesões geralmente se apresentam como úlceras indolores com bordas elevadas e fundo granuloso, podendo agravar-se sem tratamento adequado.
A Fundação Ezequiel Dias (Funed), por intermédio do Laboratório Central de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais (Lacen-MG), realiza os exames vitais para o diagnóstico da doença. Nos últimos três anos, a Diretoria do Instituto Octávio Magalhães (Diom) colaborou com a Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento (DPD) para desenvolver uma nova ferramenta que utiliza a qPCR (Reação em Cadeia da Polimerase). Essa tecnologia permite a detecção do material genético do parasita diretamente nas amostras dos pacientes, garantindo uma identificação precisa e sensível das espécies causadoras da LT.
Job Alves de Souza Filho, pesquisador da DPD e um dos responsáveis pela inovação, compara a nova metodologia a uma “câmera com inteligência artificial em um aeroporto lotado, treinada para reconhecer o rosto de um criminoso”. Da mesma forma, a nova ferramenta identificará de maneira eficaz o DNA do parasita, mesmo entre milhões de sequências distintas. “Isso possibilita detectar casos que anteriormente podiam passar desapercebidos com o primer antigo”, explica Job.
Sérgio Caldas, coordenador do Serviço de Pesquisa em Doenças Infecciosas (SPDI) da Funed e também responsável pela inovação, confirma que o novo primer foi 149 vezes mais eficiente na detecção do material genético do parasita. Isso implica que o número de casos positivos identificados dobrou em relação ao método anterior, resultando em diagnósticos mais rápidos e confiáveis, especialmente para pacientes com baixa carga parasitária.
O novo primer utiliza a estrutura da qPCR já disponível nos laboratórios do Lacen-MG, o que elimina a necessidade de investimentos em novos equipamentos ou insumos caros. Glauco de Carvalho, diretor do Instituto, explica que a simples substituição do primer proporcionará uma melhoria substancial nos resultados sem custos elevados. A tecnologia foi oficialmente implementada no Lacen-MG há duas semanas, e destaca-se como um dos laboratórios globais mais avançados no diagnóstico da leishmaniose.
Irene Arantes, diretora de Pesquisa e Desenvolvimento da Funed, destaca a importância de transformar essa tecnologia em um kit comercial padronizado para distribuição nos demais Lacens do país, frisando que a colaboração entre pesquisa e serviço público pode gerar inovações com impacto direto na saúde da população.
De acordo com Letícia de Azevedo Silva, chefe do Serviço de Doenças Parasitárias da Funed, a leishmaniose tegumentar é uma doença tropical negligenciada e de notificação compulsória, essencial para o sistema de saúde. O diagnóstico da LT envolve fatores clínicos, epidemiológicos e laboratoriais, sendo crucial para o tratamento eficiente da doença.
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