Em 2011, Márcia Noleto perdeu sua filha Mariana em um trágico acidente de helicóptero. Desde então, o luto se tornou parte integrante de sua vida, não apenas como vivência pessoal, mas como foco de estudo e trabalho. Fundadora do grupo Mães sem Nome, Márcia mergulhou nos estudos de psicologia para entender as variadas experiências de luto e buscar formas de continuar a vida, reencontrando a alegria, mesmo diante da ausência irreparável.
Com 14 anos de atuação, o grupo já proporcionou suporte a milhares de mães que, em encontros virtuais e presenciais, compartilham suas experiências e se auxiliam durante esse processo indubitavelmente doloroso. No Dia das Mães, as psicólogas voluntárias do grupo se revezam em plantão para oferecer apoio individual às que mais necessitam.
Em entrevista à Agência Brasil, Márcia fala sobre a vulnerabilidade que essa data representa para as mães que, embora continuem sendo mães, não podem mais celebrar a data com seus filhos.
Márcia sinaliza: “a mãe que perde um filho jamais superará isso. Contudo, ela pode reestabelecer sua relação com a vida”.
A fundadora compartilha como a ideia do grupo surgiu após receber mensagens de esperança de mulheres que passaram pela mesma dor. “Percebi a imensidão desse sofrimento e decidi estudar psicologia, criando grupos terapêuticos como amparo em um contexto social carente”, revela Márcia.
O nome Mães sem Nome é uma alusão à ausência de uma denominação para essa experiência de perda: “Não existe um termo no dicionário para descrever essa dor”, explica.
Márcia destaca que as mães em luto frequentemente se sentem incompreendidas, já que muitos ao seu redor evitam abordar o tema por medo ou desconforto. Ela observa que, durante suas consultas, algumas mães relataram ter recebido orientações inadequadas de psicólogos, como a ideia de que o luto é algo a ser superado. “A palavra ‘superação’ é condenada”, enfatiza.
Márcia discorda da classificação do luto como transtorno no DSM, geralmente tratado com medicação. “A dor do luto é existencial e não um quadro clínico”, argumenta. Em suas sessões, a abordagem é ouvir de forma singular, reconhecendo que o luto não é um fenômeno padronizado.
O livro Luto Materno, que compila esses relatos e embasamentos teóricos, mistura fenomenologia e a abordagem histórica do luto, inspirada em pensadores como Freud e Heidegger.
Através do Instagram (@maessemnome2023), as mães podem entrar em contato para receber apoio: “Estamos aqui para acolher e cuidar”.
Com relação ao Dia das Mães, Márcia explica que, mesmo que a data tenha um apelo comercial, ela pode ressoar profundamente com a dor de quem perdeu um filho. “Fazer um plantão psicológico é vital nesse dia, para ouvir e auxiliar essas mulheres os ajudando a celebrar a vida com aqueles que ainda estão aqui e lembrar dos que partiram”.
Por fim, ela conclui que a presença sincera e autêntica de amigos e familiares é fundamental. “Estar ao lado, sem necessidade de palavras, e acolher a dor é um dos maiores confortos que podemos oferecer”.
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