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Ipatinga cria benefício emergencial para famílias afetadas pelas chuvas

BRASÍLIA – O tenente-coronel Mauro Cid contou à Polícia Federal (PF) em seu primeiro depoimento da delação premiada na investigação sobre os supostos planos de golpe de Estado em 2022 que aliados mais próximos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), do qual ele era ajudante de ordens, defendiam estratégias diferentes.

Mauro Cid prestou mais de 10 depoimentos. O primeiro interrogatório ocorreu em 28 de agosto de 2023. Tem seis páginas e menciona, além dos supostos planos para manter Bolsonaro no poder, mais de 20 pessoas. O conteúdo foi revelado neste domingo (26) pelo colunista Elio Gaspari, do Globo e da Folha de S. Paulo.

Após a revelação de Gaspari, o jornal O Estado de S. Paulo divulgou a íntegra deste depoimento. Nele, Cid disse que, após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno das eleições presidenciais de 2022, Bolsonaro se recusava a admitir a derrota, passando a ouvir sugestões para continuar no Palácio do Planalto.

Bolsonaro estudava duas hipóteses para impedir a posse de Lula. “A primeira seria encontrar uma fraude nas eleições e a outra, por meio do grupo radical, encontrar uma forma de convencer as Forças Armadas a aderir a um Golpe de Estado”, disse Mauro Cid à PF.

Recluso no Palácio da Alvorada, a residência oficial da presidência, passou a receber os conselhos de pessoas que integravam três grupos, que Cid assim distinguiu:

Resignados: Formado pelos generais Freire Gomes (comandante do Exército), Paulo Sérgio Nogueira (ministro da Defesa), Júlio César de Arruda, entre outros. Diziam que “nada poderia ser feito diante do resultado das eleições” e que o então presidente precisava aceitar a derrota, segundo Cid. Uma virada de mesa “representaria um regime militar por mais 20, 30 anos”. Temiam que radicais levassem Bolsonaro a “assinar uma ‘doideira’”.
Moderados: Queria que o presidente pedisse aos seus apoiadores para desmontar os acampamentos em frente a quartéis do Exército e fossem para suas casas. “Diziam que o povo só queria um direcionamento.” Nesse núcleo estavam o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), o advogado-geral da União, Bruno Bianco, e o brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior, comandante da Aeronáutica. Outro grupo dentro deste defendia que Bolsonaro deixasse o Brasil. Cid citou o empresário do agronegócio Paulo Junqueira e o ex-secretário de Assuntos Fundiários Luiz Antonio Nabhan Garcia. Junqueira organizou a viagem de Bolsonaro e família para os EUA no fim do mandato.
Radicais: Estava dividido, de acordo com Mauro Cid. Uma turma queria encontrar provas de fraude nas eleições. Dela faziam parte o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, o senador Luis Carlos Heinze (PP-RS), o major da reserva do Exército Angelo Martins Denicoli, o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, e “um grupo de pessoas que prestavam assessoramento técnico”. O outro grupo “era a favor de um braço armado”. O tenente-coronel disse que essas pessoas ‘romantizavam” o artigo 142 da Constituição Federal – dispositivo que regulamenta a atuação das Forças Armadas – como fundamento para um golpe e acreditavam que, se colocasse a ideia em prática, Bolsonaro “teria apoio do povo e dos CACs (Colecionadores, Atiradores Desportivos e Caçadores)”. Fariam parte desse grupo Filipe Garcia Martins, ex-assessor especial da Presidência, os ex-ministros Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e Gilson Machado (Turismo), os senadores Jorge Seif (PL-SC) e Magno Malta (PL-ES), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o general Mário Fernandes, apontado pela PF como autor do plano “Punhal Verde e Amarelo”.
Apesar de terem sido citados por Mauro Cid, nem Michelle e nem Eduardo Bolsonaro foram indiciados pela PF e não há menção a elementos e provas, ao menos neste primeiro depoimento. Jair Bolsonaro e mais de 30 foram indiciados pela PF em novembro por pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.

Cid falou em ‘doideira’ que seria assinada por Bolsonaro
Mauro Cid narrou a gestação da “doideira” que deveria ser assinada por Bolsonaro. A “doideira”, segundo Cid, começou em novembro de 2022, após o segundo turno, quando Filipe Martins, então assessor internacional de Bolsonaro, levou ao presidente em várias ocasiões um jurista – o tenente-coronel disse não lembrar o nome. Essas conversas resultaram num “documento que tinha várias páginas de considerandos” e “prendia todo mundo”.

Na lista dos alvos estavam os ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o senador Rodrigo Pacheco (PP-MG) e “outras autoridades que de alguma forma se opunham ideologicamente ao ex-presidente”. Seria anulada a eleição e fechados o STF e o Congresso. Cid afirmou que Bolsonaro “recebeu o documento, leu e alterou as ordens, mantendo apenas a prisão do ministro Alexandre de Moraes e a realização de novas eleições devido a fraude no pleito”.

Com a chamada “minuta do golpe” pronta como considerou adequada, Bolsonaro convocou ao Alvorada os comandantes das três forças militares e mostrou-lhes o documento. Cid contou aos investigadores que foi ele quem cuidou da apresentação por PowerPoint. Disse que saiu da sala após terminada a apresentação por parte do presidente. Voltou a tempo de ouvir as considerações dos comandantes.

“Nessa reunião com os generais, o presidente apresentou apenas os ‘considerandos’ [fundamentos das medidas que seriam adotadas no golpe] sem mostrar as ordens a serem cumpridas [como a prisão de Alexandre de Moraes e a anulação da eleição de 2022]”, disse Mauro Cid. “O ex-presidente queria pressionar as Forças Armadas para saber o que estavam achando da conjuntura.”

“O almirante Garnier [Almir Garnier Santos] era favorável a uma intervenção militar, afirmava que a Marinha estava pronta para agir, aguardava apenas a ordem do presidente Bolsonaro. No entanto, o almirante Garnier condicionava a ação de intervenção militar à adesão do Exército, pois não tinha capacidade sozinho”, relatou Cid em seu depoimento.

Por outro lado, Baptista Júnior, da Aeronáutica, disse que “era terminantemente contra qualquer tentativa de golpe de Estado e afirmava de forma categórica que não ocorreu qualquer fraude nas eleições presidenciais.” O general Freire Gomes era, segundo Cid, um “meio-termo”. “Ele não concordava como as coisas estavam sendo conduzidas; que no entanto, entendia que não caberia um golpe de Estado, pois entendia que as instituições estavam funcionando; que não foi comprovado fraude nenhuma.”

Mauro Cid só delatou Braga Netto após correr risco de perder benefício
Mauro Cid teve que prestar vários outros depoimentos e quase teve seu acordo de delação anulado após investigação da PF descobrir, por meio de celulares e laptops apreendidos com ele e outros investigados, informações relevantes que teriam sido omitidas pelo tenente-coronel.

O acordo de delação de Cid foi firmado pela PF e homologado pelo ministro Alexandre de Moraes em 9 de setembro de 2023. Pressionado, Cid prestou um novo depoimento diretamente a Moraes, em novembro do ano passado, quando entregou o general Walter Braga Netto, que acabou sendo preso no fim de 2024.

No primeiro anexo de sua delação, que Elio Gaspari revelou neste domingo, Cid afirmou apenas que Braga Netto era o “elo entre os manifestantes e o ex-presidente”. À frente de Moraes, o tenente-coronel disse que Braga Netto entregou dinheiro a “kids pretos” para financiar o plano de execução do próprio ministro, de Lula e do vice Geraldo Alckmin, em 2022.

Mauro Cid ainda acusou o general, que concorreu à vice na chapa de Bolsonaro em 2022, de tentar influenciar sua delação. Foi esta declaração que mais pesou na ordem para prender Braga Netto. Já “Kids pretos” são os integrantes das Forças Especiais do Exército, treinados para ações clandestinas, incluindo golpe de Estado.

A delação de Mauro Cid foi usada também em outras investigações. O ex-ajudante de ordens confirmou a existência do chamado “gabinete do ódio” na estrutura do governo Bolsonaro, admitiu a falsificação de comprovantes de vacinação contra Covid-19 para um grupo de pessoas, incluindo o ex-presidente e a filha Laura, e afirmou que recebeu “determinação” do então presidente para avaliar o valor de um relógio Rolex e autorização para vendê-lo junto com outros itens que compunham um kit de joias valiosas dado pela Arábia Saudita como presente oficial.

Citado por Mauro Cid negam intenção de golpe
Ainda neste domingo, após a divulgação do primeiro depoimento de Mauro Cid em delação premiada, a defesa de Bolsonaro publicou nota em que manifesta indignação diante de novos “vazamentos seletivos” e critica o que chama de “investigações semissecretas”.

“Investigações ‘semissecretas’ — em que às defesas é dado acesso seletivo de informações, impedindo o contexto total dos elementos de prova —, são incompatíveis com o Estado Democrático de Direito, que nosso ordenamento busca preservar”, dizem os advogados do ex-presidente.

Também em nota, Magno Malta reiterou que nunca incentivou Bolsonaro a dar um golpe de Estado e garantiu estar à disposição para prestar esclarecimentos à Justiça.

“Minhas interações com Bolsonaro após as eleições eram pautadas em momentos de consolo, orações e leitura da Bíblia. Estou plenamente disposto a cooperar com as autoridades, buscando esclarecer quaisquer dúvidas que possam surgir. Acredito que a menção do meu nome está relacionada ao tempo que passei com o ex-presidente, mas reitero que não há fundamento para preocupações, pois não cometi nenhum crime”, disse Malta.

Jorge Seif afirmou, também em nota, que as declarações de Mauro Cid são “falaciosas, absurdas e mentirosas”. “Nego veementemente que em quaisquer de meus encontros com o Presidente tenha abordado ou insinuado decretação de intervenção ou outras medidas de exceção”, disse.

Confira a matéria completa em: zug.net.br

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