O presidente da Argentina, Javier Milei, se viu no centro de uma polêmica após anunciar na sexta-feira (14/02), na rede social X, um projeto para financiar empresas locais. A postagem incluía um link que encaminhava para um contrato digital de compra de uma criptomoeda, a $LIBRA, criada no mesmo dia.
Pouco depois, o ultraliberal apagou a mensagem, e a Presidência esclareceu que o mandatário não tinha relação com a iniciativa. Nesse intervalo, o preço da $LIBRA subiu de centavos para 4.978 dólares (R$ 28,4 mil).
O valor do ativo desabou em poucas horas, ocasionando perdas bilionárias. Os detentores originais começaram a vender com lucro de milhões, mas o valor do ativo despencou em seguida.
A manobra é conhecida no trading digital como uma “puxada de tapete”, segundo Javier Smaldone, especialista em informática e influenciador digital conhecido por denunciar esquemas de pirâmide.
“Uma criptomoeda é criada, o que também pode ser feito com ações, recebe uma liquidez inicial para que o que foi criado valha alguma coisa e, em seguida, uma campanha publicitária de algum tipo é iniciada, atraindo pessoas”, explicou Smaldone sobre o papel que a promoção de Milei poderia ter desempenhado.
O especialista acrescentou que à medida que “as pessoas começam a comprar, o valor do ativo aumenta (…) até que, em algum momento, aqueles que administram a liquidez retiram o dinheiro e a coisa desanda”.
Ele disse ainda que toda a operação de sexta-feira durou “mais ou menos duas horas” e movimentou um volume aproximado de 4,4 bilhões de dólares (R$ 25,1 bilhões).
A justiça federal do país investigará se Milei cometeu crime ao promover em suas redes sociais uma criptomoeda que colapsou horas após seu lançamento.
Um tribunal federal foi designado na segunda-feira (17/02) para centralizar as denúncias que pedem para apurar se Milei cometeu crimes como associação criminosa, fraude e descumprimento dos deveres de funcionário público, entre outros.
Críticas ao presidente
O anúncio do presidente ultraliberal afirmava que a criptomoeda era “um projeto privado” dedicado a “incentivar o crescimento da economia argentina, financiando pequenas empresas e empreendimentos argentinos”.
Economistas e especialistas no universo cripto da Argentina, bem como vários políticos da oposição, rapidamente criticaram Milei e apontaram que esse ativo digital poderia ser uma fraude ou um esquema Ponzi.
Horas depois de excluir a publicação o presidente se justificou nas redes. “Eu não estava ciente dos detalhes do projeto e, depois que tomei conhecimento, decidi não continuar difundindo-o”, explicou Milei depois da meia-noite em sua conta no X.
“Alguém que vem e me propõe criar um instrumento para financiar projetos. Para mim, parece interessante”, disse o presidente, defendendo-se como “um tecno-otimista fanático”.
Com o aumento das críticas, a presidência argentina informou ainda na noite de sábado que, “diante dos fatos”, Milei “decidiu intervir de forma imediata com o Escritório Anticorrupção (OA) para determinar se houve conduta imprópria por parte de qualquer membro do governo nacional, incluindo o próprio presidente”.
Também anunciou a criação de uma “Unidade de Força-Tarefa de Investigação” sob o gabinete do presidente encarregada de “iniciar uma investigação urgente sobre o lançamento da criptomoeda $LIBRA e todas as empresas ou indivíduos envolvidos na operação”, acrescentou a presidência em uma declaração no X.
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