“Eu falo o que acho / Levanto bandeiras / E corro pro abraço / E rasgo coleiras”, se apresenta Marina Iris no samba arretado que dá título ao álbum lançado pela cantora carioca neste mês de março de 2018, Rueiras (Biscoito Fino). De fato, ao levantar bandeiras de lutas e afetos, Iris confirma o talento vocal já conhecido em rodas de samba da cidade do Rio de Janeiro (RJ).
Em Rueiras, a cantora dá voz a 11 músicas compostas por Rodrigo Lessa em parceria com Manu da Cuíca, letrista cuja habilidade é avalizada por ninguém menos do que Aldir Blanc em texto publicado no encarte da edição em CD desse álbum gravado em 2017 com arranjos e direção musical do próprio Rodrigo Lessa.
Sintomaticamente, sambas sincopados e sinuosos como Cabeça de porco e, sobretudo, Ponto de cruz evocam a obra construída por Blanc com João Bosco a partir da década de 1970. Cabeça de porco pode evoluir bem em salão de gafieira no qual também se aclimataria Princesinha underline 86, retrato contemporâneo e sem retoques da torre de babel abrigada no bairro carioca de Copacabana. Sob a luz da poesia nua e crua de Manu da Cuíca, e com o toque caloroso da Banda do Síndico, a Princesinha do mar se acende sem os flashes românticos dos sambas-canção que retrataram nos dourados anos 1950 essa mítico bairro também abordado no disco, com toda a diversidade e com dose maior de lirismo, no compasso de Copacabana, a valsa.
O lirismo reaparece no brilho de Pingente, melodia que parece planar no ar com leveza. Já o romantismo espouca no tom acariciante de Meio a meio, no aconchego do dueto feito por Iris com Zélia Duncan, convidada de um disco que também propaga a voz de Júlio Estrela em Xodó, mix de salsa com sons de Cabo Verde. Aliás, De branco hasteia a bandeira da tolerância religiosa, puxando o fio que conduz o álbum Rueira à África.
A recorrente mãe África paira soberana nas quebras de Gingalíngua e na festa feita por Avenida réveillon, samba que pede passagem ao fim do CD para abrir a roda para Marina Iris, cantora da turma dessa “moçada que não é de brincandeira”, como ela já avisa em versos de Rueira, o samba-título desse disco em que a artista também levanta a bandeira do samba ao desbravar novos quintais. (Cotação: * * * *)
Fonte: G1 Música – Leia a matéria completa.