“Aquele”, o pronome, era usado para nomear os episódios da querida série “Friends“: “Aquele do Futebol Americano”, “Aquele da Praia”, “Aquele do Casamento do Ross” etc. O Campeonato Brasileiro de 2023 será para sempre conhecido como “Aquele que o Botafogo perdeu”.
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O querido leitor e a querida leitora podem dizer, com razão, que a história é contada pela ótica dos vencedores. Palmeirenses farão música (ou deveriam) para a virada de 4 a 3 contra o Botafogo, o jogo mais icônico deste incrível campeonato.
Poderia ser Flamengo, Grêmio ou Atlético Mineiro, mas foi o Palmeiras que aproveitou a tragédia botafoguense. O time do míster Abel não foi o melhor do primeiro turno, não foi o melhor do segundo, não tem a melhor defesa e seu artilheiro, Endrick, é apenas o 12º goleador do campeonato (mas a equipe tem o melhor ataque, por enquanto).
Mas e se o Cruzeiro vencer o Palmeiras, o Atlético empatar com o Bahia e o Flamengo vencer o São Paulo por 17 a 0? Não interessa, ainda assim, o Brasileiro de 2023 será “Aquele que o Botafogo perdeu”.
Teses serão escritas sobre o campeonato, com futuros mestrados e doutorados em diversas áreas, incluindo matemática, filosofia, psicologia e ocultismo.
Equipes no mundo todo vão citar o Botafogo em momentos de folga na tabela. Qatar Saint-German, 10 pontos na frente do Francês? “Calma, pessoal, vocês lembram do que aconteceu com o Putfire?”. Bayern, 412 pontos de dianteira no Alemão? “Eles ainda podem virar, não viu o Botafogo? E vão tomar uma cerveja helles.”
Neste ano, este escriba também sentiu pela primeira vez que a matemática não é exata: três pontos na primeira rodada não são iguais três pontos na última. Se fosse, o Botafogo, que ficou fora do top 4 do Carioquinha, seria exaltado por terminar no G6 do nacional.
Imagine a conversa entre um dos demônios do futebol (não existem deuses no futebol, só demônios disfarçados) e um CEO do Putfire antes do Brasileiro começar…
Demônio: “Quero fazer um trato que vai ser bom pra você, e divertido pra mim”.
Putfire’s CEO: “Me parece um esquema, operação, arranjo, condicionado… não sei… o que sugere?”.
Demônio: “Dou para o seu time, que ficou atrás do Volta Redonda no Carioquinha, uma vaga na Libertadores. Topa?”.
CEO: “Hmmm, parece bom demais… Na frente do Flamengo?”.
Demônio: “Não abusa, mas tiro o título do Flamengo também, já falei com meu mano Braz e meu mano Landim, são parças”.
CEO: “Fico no G4?”.
Demônio: “G5…”.
CEO: “Qual a pegadinha?”
Demônio: “Eu escolho a ordem dos resultados. Mas três pontos são três pontos, não importa a rodada, certo?”.
[Ainda um pouco desconfiado, o CEO puxa uma calculadora, faz contas, e chega a conclusão que o argumento do demônio é irrefutável.]
CEO: “Mas quero ficar na frente de Fluminense e Vasco“.
Demônio, gargalhando: “Claro, incluo no pacote. Fechamos?”
CEO: “Onde assino?”.
[E não critique o CEO, provavelmente qualquer mortal que olhasse o primeiro trimestre do Botafogo assinaria o maldito contrato.]
Corta para este fim de semana, após a penúltima rodada: a torcida do Vasco continua mobilizada no “não vai cair”; a do Flu, ri de derrota; a do Flamengo, que deve terminar em terceiro com o melhor elenco da temporada, faz festinha de fim de ano; e a do Botafogo, no G5, joga pipoca e vaia a equipe.
Enquanto o Demônio soluça de tanto rir, o CEO só pensa: “Quero ver ele manter a gente ainda em quinto na última rodada”.
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