Um sonho interpretado como profecia fez o morador de Ipatinga (MG) João Pimenta da Silva, de 71 anos, investir seu tempo, dinheiro e trabalho em um buraco de 40 metros de profundidade escavado dentro de sua própria casa. Nesta última semana, a história teve um final trágico, e o corpo do idoso foi retirado do fundo do buraco por uma equipe do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais. Veja abaixo tudo o que sabe sobre o caso.
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Homem foi encontrado já morto
O Corpo de Bombeiros narra que a ocorrência aconteceu por volta das 13h35 da tarde desta quinta, na Rua Bical. Os agentes informaram que “após o tal sonho”, o idoso iniciou a escavação de um buraco com cerca de 90 cm de diâmetro e, pelo menos, 40 metros de profundidade. “Não foi informado quanto tempo durou todo o processo, nem como articulou a complexa escavação de garimpo”.
Foi relatado também à equipe que, no sonho, o morador teve a orientação sobre a intervenção ser naquele exato ponto da residência, no piso da cozinha. Ao sair do buraco no início da tarde de quinta-feira, teria escorregado do acento de acesso, uma espécie de balanço de criança, vindo a sofrer a queda até o fundo do poço. Ele estava trabalhando na retirada de água e lama.
“Com uso de EPIs apropriados para o acesso seguro do militar que realizaria descida, além de um cilindro de oxigênio em função de possíveis riscos respiratórios, a guarnição efetuou a retirada do corpo da vítima. Ele apresentava poli traumatismo, fraturas expostas nas duas pernas, fratura de quadril, laceração do abdômen e tronco, TCE grave, escoriações generalizadas, já sem sinais de vida”, concluiu a corporação.
A Polícia Civil afirma que deslocou uma perícia oficial ao local, nesta quinta-feira, para realizar os trabalhos de praxe, e que o corpo do idoso foi encaminhado ao Posto Médico-Legal para ser submetido ao exame de necropsia. Acrescentou que aguarda a conclusão dos laudos para constatar as circunstâncias e a causa da morte.
Como ele caiu?
A Inter TV, de Minas Gerais, conversou com um amigo de João da Silva, Antônio Wilson Costa, que estava no local no momento da queda do homem. Segundo contou, ele foi chamado pelo vizinho para ajudar a tirar água do buraco.
— Eu estava aqui trabalhando e ele veio me pedir ajuda para tirar a água do buraco. Tava batendo mais ou menos na cintura. Descemos a bomba e retiramos dois baldes de 18 litros. Ele resolveu retirar a bomba para guardar. Eu falei com ele para deixar para lá porque tava chovendo, parecia que alguma coisa tava tentando me fazer impedir ele. Ai montamos o elevador de novo e ele desceu até a metade do poço, depois ele resolveu voltar.
Segundo Antônio Costa, ao chegar no topo, o balanço, que servia de elevador e permitia a João da Silva subir e descer na escavação, escorregou. O idoso ficou, então, preso por uma corda.
— Eu tentei segurei ele, sozinho, não tinha como pedir socorro. Mas se eu continuasse segurando eu ia junto. Eu só escutei o barulho — conta o homem, que relatou receber R$ 250 pelo serviço e disse ter chamados os bombeiros logo em seguida.
Como o buraco foi feito?
O Corpo de Bombeiros diz que os militares que atenderam a ocorrência não entenderam como o idoso conseguiu cavar um poço “tão profundo com uma estrutura estável que beira a perfeição” — a profundidade é equivalente ao tamanho de um prédio de 13 andares. Ouviram de vizinhos que ele já teria experiência em cavar poços, mas a informação não foi confirmada.
Vídeo mostra o poço feito por idoso de 71 anos, que acabou morrendo ao cair no buraco
Uma fonte ouvida pelo GLOBO afirmou que, mesmo em operações de resgate, os bombeiros precisariam realizar uma série de estudos de viabilidade e uso de equipamentos para conseguir escavar um túnel tão longo e com tanta complexidade: “Não é natural uma pessoa conseguir cavar um túnel desses”. Até para descer e retirar o corpo do idoso, o resgate precisou usar máscara, cilindro de oxigênio e equipamentos de proteção individual.
A constatação contrasta, no entanto, com o cenário encontrado pelos agentes. Ao lado do túnel aberto no canto da cozinha de Seu João, como era conhecido, havia compressores, uma espécie de martelete, mas ferramentas consideradas arcaicas para uma operação desse tipo. Para subir e descer o poço, João e os ajudantes usavam uma estrutura de madeira que se assemelhava a um balanço de criança e que sequer era presa com parafusos no chão.
‘Vendeu tudo para ir em busca desse ouro’
O GLOBO conversou com um vizinho do seu João, que conhecia bem o idoso e conta que há mais de um ano acompanhava a saga dele para encontrar o tal pote de ouro no subterrâneo da própria casa, numa área humilde do Vale do Rio Doce. Arnaldo da Silva conta que tentou aconselhar o vizinho a parar com a empreitada, chegando a avisá-lo do perigo, mas sem sucesso. Nos últimos dias, a vítima da tragédia falava até em buscar por dinamites para explodir uma rocha que vinha impedindo que a escavação continuasse.
— O seu João há cerca de 1 ano está furando esse buraco. Nesse período, ele contratou muitas pessoas para fazer essa escavação. Ele começou pagando R$ 70 por dia quando o buraco era raso, mas quanto mais fundo foi ficando, maiores foram ficando os valores. Ele havia parado numa pedra muito grande que apareceu no caminho do buraco, complicada de tirar, e houve boato até de que ele vinha falando em procurar dinamite para explodir a rocha — diz o morador.
Ele conta que Seu João dizia ter ouvido a voz de um espírito, que garantia que, no fundo do poço escavado na cozinha de casa, ele encontraria um tesouro.
— Eu conversei com ele da última vez e ele disse que, depois dessa rocha, havia um oco onde estariam as pedras de ouro que ele procurava. Disse que recebeu orientações espirituais. Eu questionei ele: “que tipo de espírito é esse, seu João?”. Ele disse que era da “linha branca”, mas como não entendi nada, falei só para ele tomar cuidado, que era muito perigoso o que ele estava fazendo, que podia haver gases explosivos ali.
O vizinho revela ainda que o idoso ficou tão obcecado com a ideia de encontrar pedras de ouro debaixo de casa, que vendeu tudo o que tinha, incluindo imóveis que havia construído há anos e que alugava pela região.
— Ele já havia comprado todos os equipamentos, vendeu tudo o que tinha em busca desse ouro. Tinha várias casas de aluguel, barraquinhos que ele mesmo construiu e, depois dessa “orientação” que veio na mente dele, começou a vender os imóveis… eram barraquinhos de dois, quatro cômodos. Foi vendendo e aplicando nessa obra.
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