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Titane percorre em segurança a estrada do sertão que a conduz à obra de Elomar

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A obra do compositor baiano Elomar Figueira Mello está entranhada nos rincões do Brasil sertanejo. Mas o sertão de Elomar nada tem a ver com os campos em que, na década de 1930, brotou a música inicialmente rotulada como caipira. Produto singular, resultante da conjunção de elementos do folk e da música ibérica, o cancioneiro ruralista deste compositor de atuais 80 anos é a trilha sonora de cantoria nordestina que se enquadra até em moldura sinfônica tal o refinamento com que a obra foi burilada pelo ourives.
Voz de Minas Gerais, estado também sertanejo, a cantora Titane aborda a obra de Elomar com respeito às estruturas básicas do repertório autoral do cantador em disco que se desvia dos clichês ruralistas. Na recriação da moda O violeiro (1973), a viola (no caso, de 14 cordas) está lá, sobressalente no toque de André Siqueira, mas o álbum Titane canta Elomar – Na estrada das areias de ouro (Edição independente) expõe diversos matizes da obra do compositor, cronista da vida, dos costumes, dos amores e dos dissabores do homem do sertão.
Por estar situada intrinsecamente nesse universo sertanejo, o sotaque caipira de temas como Chula no terreiro (1979) soa perfeitamente natural nessa faixa em que a voz aguda de Titane se harmoniza com o canto grave de Pereira da Viola. Violeiro respeitado no universo musical do Brasil rural, Pereira é o convidado da gravação conduzida pelos violões de Hudson Lacerda, colaborador de Kristoff Silva, diretor musical do disco produzido pela própria Titane em parceria com Kristoff.
Capa do álbum ‘Titane canta Elomar – Na estrada das areias de ouro’
Divulgação
Contudo, o álbum Titane canta Elomar – Na estrada das areias de ouro abre a porteira do sertão, expondo em Corban (1983), no toque do violão de Hudson, a influência ibérica que pauta parte do cancioneiro do inimitável compositor. Na música-título Na estrada das areias de ouro (1973), a voz de Titane – já em si responsável pelo tom de salutar estranheza do disco pelo fato de ser um timbre feminino a se fazer ouvir no mundo predominantemente masculino dos cantadores e violeiros – se afina somente com o toque do acordeom Toninho Ferragutti. O mesmo acordeom virtuoso de Ferragutti vai dar o tom forrozeiro de Clariô (1979), faixa de maior vivacidade rítmica de álbum enraizado no folk à moda do sertão brasileiro.
Em Acalanto (1973), o toque da marimba de porcelana manuseada por Kristoff Silva evoca um tempo de delicadeza onírica em sintonia com a letra em que Elomar narra fábula de amor medieval. Aliás, os versos de Elomar são construídos no idioma particular do homem sertanejo, prosódia que Titane respeita ao dar voz a composições como Segundo pidido (1983).
A cantora Titane
Divulgação
Ao caminhar pelas estradas sertanejas de Elomar, a cantora também carrega melancolia de amores desfeitos e saudade de um sertão já corroído pela força da natureza e do bicho homem. Esses sentimentos brotam na bela estrada melódica percorrida por Cavaleiro do São Joaquim (1973) e também na rota da Cantiga do estradar (1983). Como sinalizam versos de Na quadrada das águas perdidas (1979), música que deu título ao segundo álbum do cantador, há muito desencanto no caminho que conduz ao reino onírico e sertanejo de Elomar.
Cruzando tons flamencos e caipiras, a épica gravação de Na quadrada das águas perdidas representa o fim do caminho de Titane pela estrada que a conduz com propriedade pela obra de Elomar Figueira Mello, ourives de cancioneiro que merece ser revisitado sem ranços folclóricos, como faz essa cantora do sertão mineiro neste disco tão bonito quanto relevante. (Cotação: * * * *)

Fonte: G1 Música – Leia a matéria completa.

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