Segundo o Instituto Nacional do Câncer, materiais são usados até hoje
O Instituto Nacional de Câncer (Inca) inicia nesta semana um curso a distância do Programa Saber Saúde. Como sempre, as ilustrações feitas por Ziraldo na década de 1990 estarão nas aulas, mas desta vez recebem atenção especial e muita saudade. âEle contribuiu muito, tanto para o controle do câncer quanto para o controle do tabagismo. Nós recebemos a notÃcia do falecimento dele com muita tristeza, porque todos temos um carinho grande por ele, pelo trabalho que sempre fez e essa parceria importante com o Inca. Seu legado vai ser, com certeza, eternizadoâ, diz a chefe da Divisão de Controle do Tabagismo e Outros Fatores de Risco (Conprev) do Inca, Maria José Domingues da Silva Giongo.
A secretária executiva da Comissão Nacional para a Implementação da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (Conicq), Vera Luiza da Costa e Silva, foi uma das pessoas que trabalhou com Ziraldo nessa época, em que as propagandas de cigarro ocupavam a televisão e outros meios de comunicação e cerca de 35% da população era fumante, segundo o Inca.
âNaquela época, as campanhas [antitabagistas] eram com caveiras, com revólveres, com uma coisa sempre associada à  morte, à  doença, à  desgraça. E aà ele falou assim: âOlha, está tudo errado. O que vai mudar a maneira de as pessoas verem o hábito de fumar é o lado comportamental. Tem que colocar que é cafona fumar, que é careta, que é brega, que é de mau gosto. E aà ele falou: eu vou fazer essa campanhaâ, conta Vera..
A campanha funcionou até mesmo com o próprio Ziraldo. âE ele fumava na época. Então, fez a campanha e ficou tão compelido com aquilo que parou de fumar, entendeu?â, diz a secretária.
O Brasil também mudou ao longo do tempo. As propagandas de cigarro passaram a ser proibidas nos meios de comunicação. Em 2019, o percentual de fumantes cai para 12,6 %, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS).
A campanha mostrou o poder das imagens. âO poder da ilustração e do conceito, né? Mudou todo o universo na épocaâ, diz a secretária. âA gente deve muito a ele na área da saúde pública, acho que ele introduziu um conceito que realmente mudou até mesmo a nossa visão. Mudou por causa do Ziraldoâ, acrescenta. De acordo com ela, o escritor contribuiu para a definição de um tom das campanhas de prevenção em uma época que o paÃs ganhava  nova Constituição, em 1988, e definia, posteriormente, o Sistema Ãnico de Saúde (SUS).
Saber Saúde
âAs imagens falam por si, dialogam com o público infantil e infantojuvenil. Você olha uma folhinha, uma planta tossindo, expelindo fumaça, a criança olha e vê o dano que aquilo causa à saúde, o quanto faz mal. E o legal é que a partir disso, a gente reforça os fatores de proteção, os comportamentos que eles precisam ter, para que não venham a ter doenças crônicas no futuroâ, afirma Maria José Giongo, responsável pelo programa.
Ela diz que o programa é um sucesso e que muito é graças a Ziraldo: âTem muito boa receptividade, eles gostam muito, porque o Ziraldo é conhecido em nÃvel de Brasil, nÃvel nacional, tanto por profissionais da educação quanto da saúde e por crianças. Então, a receptividade dos materiais, eles pedem, eles querem, eles gostam. A gente oferece turmas para o curso e se inscrevem mais profissionais do que o número de vagas que a gente consegue ofertarâ.
Para Vera, âa genialidade, o compromisso, a leveza de Ziraldo vão ficar na obra dele. Mas a gente perde a pessoa, né?â.
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